Tô sem comer chocolate desde o carnaval.
E sem carne vermelha.
Sem refrigerante.
Sem bebida alcoólica.
Não, não tem sido uma morte horrível. Essa semana sonhei com uma bisteca suculenta, mas o desejo veio e passou logo depois. O mais sofrido de tudo isso, sem dúvida, é o chocolate. Comprei um ovo do Star Wars e não abri. Me oferecem trufas e pedaços de chocolate e não como. Esses dias vi um perfeito pudim de chocolate e sorri maniacamente enquanto o garçom falava o quanto ele era saboroso. Mas não comi.
Eu acho engraçado quando encontro essa força de vontade dentro de mim. É estranho pensar que eu CONSIGO fazer alguma coisa assim. Passei boa parte da vida achando que não conseguia fazer muita coisa, com medo de tentar e falhar. Eu me cobro demais, morro de medo de fracassar e depois ter que encarar meu fracasso.
Acho que por isso nunca tentei aprender a andar de skate ou surfar de verdade. Nunca tentei aprender a tocar um instrumento de verdade. São coisas que eu acho muito bonitas e me vejo incapaz de fazer, e por medo de descobrir com certeza que sou incapaz de fazer, nem tento.
Será que um dia, depois dos 40 anos, vou conseguir subir numa tabuinha de madeira e deslizar sobre rodinhas? Alguém em sã consciência anda de skate depois dos 40? Por que eu tô subitamente preocupada com skate? Será que foi porque li sobre a Cara-Beth Burnside?
Talvez eu queira mesmo é comer um chocolate.
Talvez eu queira mesmo é ir pra praia sentir um pouco de sol no corpo. Ou voltar a correr com regularidade. Ou fazer aula de skate, mesmo.
Ou não fazer 38 anos esse ano, porque trinta e oito, trin-ta-e-oi-to é muito idade de senhora. De mulher adulta e crescida que toma as próprias decisões. Eu por outro lado quando posso tomar decisões decido usar uma camiseta pink de cavalinhos. Ou compro livros ou um sapato que não preciso. E flores, eu sempre compro flores.
Comprar flores é uma boa decisão, na verdade. Não vou parar de comprar flores.
Mas talvez decida parar de comer carne de vez.